O guaraná é um fruto muito conhecido na região amazônica, e existe um forte misticismo atrelado a ele. A lenda amazônica do guaraná narra a história de um casal da tribo Maués que, por muito tempo, viveu sem filhos e desejava muito ter um. Um dia, eles pediram ao deus Tupã uma criança, e assim Tupã concedeu o pedido, dando-lhes um filho lindo. O tempo passou, e o menino cresceu. Era bondoso, generoso e querido por todos em sua tribo.
Jurupari, o deus da escuridão, sentia muita inveja do curumim. Um dia, quando o menino foi coletar frutos na floresta, Jurupari aproveitou a situação, transformou-se em uma serpente venenosa e mordeu o menino, matando-o instantaneamente. Naquele dia de perda, trovões ecoaram na floresta e relâmpagos foram lançados sobre a aldeia. A mãe, tomada pela tristeza, entendeu que aquilo era uma mensagem de Tupã, dizendo-lhe para plantar os olhos de seu filho amado, pois dali nasceria uma nova planta, que cresceria e daria frutos.
No lugar onde foram plantados os olhos do menino, nasceu o guaraná. Suas sementes são negras, envoltas em uma casca vermelha, e, quando o fruto amadurece, a polpa e a semente ficam expostas, remetendo à aparência de um olho humano. Esta é uma das várias versões sobre a origem do fruto. [1]
A primeira referência ao guaraná que temos registro é a de João Filipe Betendoff, Superior jesuíta no Maranhão, em 1669. O relato conta que os nativos utilizavam o guaraná como “planta milagrosa”. Neste relato, consta que a bebida feita a partir do guaraná dava energia para caçar de um dia até o outro sem sentir fome, além de auxiliar contra febres, câimbras e dores de cabeça. Acredita-se que os nativos citados sejam o povo Sateré-Mawé. Os Sateré-Mawé domesticaram a trepadeira silvestre e criaram o processo de beneficiamento da planta. Os Maués, como também são conhecidos os Sateré-Mawé, denominam a fruta de Waraná. [2] [3]
Uma semente ancestral que gerou raízes e influenciou toda a sociedade amazônica. O guaraná é intrínseco à sociedade amazônica. É possível encontrar o guaraná em diversas formas no mercado: em refrigerantes, estimulantes, bebidas energéticas, em pó e em xarope, todas fazendo parte do cotidiano das pessoas, não só no espaço amazônico, mas no mundo.
Um exemplo da influência do guaraná no cotidiano amazônico pode ser visto na cidade de Manaus, capital do Amazonas, onde é possível encontrar preparados de bebidas à base de guaraná. Geralmente, o preparo comercializado em diferentes pontos da cidade contém xarope de guaraná, amendoim, leite e abacate batidos juntamente com gelo. O resultado é uma bebida com textura cremosa.
A cidade de Maués é uma das maiores produtoras de guaraná do Brasil. O nome Maués é uma das denominações dada aos nativos Sateré-Mawé. O guaraná de Maués possui o selo de Indicação Geográfica, o que significa que o guaraná da cidade de Maués é único e só pode ser encontrado lá. Atualmente, o maior produtor de guaraná é a Bahia, com 64% de todo o guaraná colhido no Brasil.
O que difere o guaraná de Maués são seus processos produtivos, que ainda remetem aos mesmos métodos utilizados pelos Sateré-Mawé. Com isso, o guaraná se afirma como um cultivo que passou por diferentes períodos de um povo, fazendo parte de sua história.
A língua falada pelos Maués é a língua Sateré-Mawé, uma das línguas estudadas pelo ISLA (Instituto de Sustentabilidade Linguística da Amazônia). Temos o objetivo de preservar e revitalizar as línguas nativas da região amazônica. Nossa equipe conta com o suporte de profissionais de tecnologia, linguistas e tradutores, trabalhando juntos para atingir esse objetivo.
Material de apoio:
[1] Lenda da região Norte do Brasil, Amazonas – UFMG
[2] O Guaraná: Histórico, Composição e a utilização do produto e subprodutos – Embrapa